PALAVRA DO PÁROCO: Experimentar a misericórdia do Senhor

Sempre me impressionou a capacidade de Jesus de compadecer-se das criaturas, como nos mostram os Evangelhos. A misericórdia é parte de seu método educativo com os seus discípulos e com o povo que encontrava em sua trajetória terrestre.

Vejamos São Pedro! Quantas coisas saíram de sua boca sem pensar, e quantas vezes foi repreendido por Jesus! No entanto, seu caráter explosivo, enérgico, sempre pronto a reagir, nunca foi obstáculo no seu íntimo relacionamento com o Mestre e do Mestre com ele.

Um dos exemplos de correção se deu logo após uma afirmação de Pedro, inspirada pelo Espírito Santo. Jesus quer saber dos discípulos o que dizem as pessoas sobre o Filho do Homem. Após ouvir a resposta, que o igualava a João Batista ou a um dos profetas, reduzindo, assim, a figura dele à de um homem que falava em nome de Deus, Jesus ouve de Pedro: “Tu és o Filho do Deus vivo!” (Mt 16, 16). Poucos minutos depois, todavia, Jesus o chamará de satanás, o considerará “uma pedra de tropeço” (Mt 16, 23), pois se recusava a aceitar que o Mestre fosse morto e ressuscitasse para nos salvar.

Proponho refletirmos sobre a profunda misericórdia de Deus Pai diante da incapacidade humana em lidar com coisas aparentemente banais de nossa vida e, ainda, duvidar da presença benevolente de Jesus, sempre pronto a nos surpreender com a abundância de suas graças, do seu perdão.

Na pesca milagrosa, Pedro lançou as redes simplesmente em atenção à palavra do Mestre. Ele, pescador experimentado, passara a noite toda em alto mar e nada pescara. E Jesus, aparentemente desconhecedor daquele labor, o manda jogar as redes em águas rasas. Pedro não discute, mas obedece por obedecer, convicto de que não encontraria peixes ali. Lança as redes, e a abundância de peixes por muito pouco não as rompem. Assustado, o apóstolo se prostra diante de Jesus: “Afasta-te de mim, Senhor, pois sou um pobre pecador.” (Lc 5, 8). Em resposta a essa manifestação de humildade, Jesus lhe promete: “Eu o tornarei pescador de homens!”

A misericórdia divina se manifesta mais uma vez logo após a negação de Pedro, temeroso de ser reconhecido como amigo de Jesus, já entregue às autoridades judaicas que o condenariam à morte. Em meio às dores do flagelo daquela noite, Jesus ainda teve tempo e forças para lhe dirigir um olhar cheio de doçura e compaixão, fazendo Pedro chorar amargamente. Mais tarde, já ressuscitado, Jesus confere a ele o poder sobre sua Igreja. Depois de lhe perguntar três vezes se o apóstolo o amava, lhe diz: “Apascenta minhas ovelhas” (Jo 21, 17).

Em outra passagem, igualmente bela, Jesus vê o cortejo da viúva de Naim e se compadece: “Mulher, não chores!” (Lc 7, 13). E restitui a vida a seu filho. Vamos imaginar o sentimento de gratidão que tomou conta daquela pobre mulher. Poderíamos descrever inúmeras cenas dos Evangelhos que comprovam o imenso amor e misericórdia de Jesus para com a multidão que encontrava, as curas que realizava, os pecados que perdoava…

A igreja de Santa Generosa tem essa mesma pretensão: ser o terreno onde Jesus continua sua trajetória de misericórdia e de milagres em nosso tempo. Para tanto, oferece muitas horas de confissões diárias, seja no domingo, com o dia inteiro de Confissões e Missas, seja durante a semana.

No Santo Sacramento da Confissão, o Filho de Deus Vivo continua no meio de nós com o mesmo olhar de ternura que lançou a Pedro, o mesmo olhar benigno dirigido à viúva de Naim, especialmente quando o sacerdote, em seu nome, profere: “Eu te absolvo de todos os teus pecados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.” Em que medida somos capazes de retribuir-lhe tamanha benevolência, tamanha delicadeza, suavidade e disposição de sempre, sempre nos perdoar?

Padre Cássio Carvalho – outubro 2024.

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