DESTAQUES
PALAVRA DO PÁROCO
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13, 34)

Este mandamento nos foi dado por Jesus na Última Ceia logo após a saída de Judas do cenáculo para entregá-lo aos homens da Lei. Mas Jesus não ficou nas palavras somente; em poucas horas, nos mostraria a radicalidade desse amor incondicional ao dar a própria vida para a salvação da humanidade inteira.
Ao enfatizar que se trata de um “novo mandamento”, Cristo propõe uma ruptura na forma de viver as relações humanas, pois, no judaísmo, havia a concepção de um amor de reciprocidade, do “toma lá, dá cá”, isto é, amar os amigos e odiar os inimigos. Essa reciprocidade, no entanto, continua atual, afinal, as normas que regem os relacionamentos em nosso mundo hoje não diferem muito do “olho por olho, dente por dente” daquela época.
Vivemos uma realidade calcada no individualismo, na indiferença total com o outro, no hedonismo e no consumismo. O que conta é o sucesso, pouco ou nada importando as regras para um convívio de solidariedade e cuidado com o próximo na busca dos objetivos. Poderíamos ilustrar o momento atual com a célebre frase do dramaturgo romano Plauto, mas que foi popularizada por Thomas Hobbes: “O homem é o lobo do homem”. Hobbes entende que os humanos são inimigos entre si, como se a tendência natural do indivíduo fosse agir contra o outro.
Nossas crianças são orientadas desde cedo a perseguir os primeiros lugares para, mais tarde, entrar numa faculdade de ponta, obter os melhores empregos. Parece não haver problema em uma criança tentar ser a melhor, porém há que sacrifício de si própria e do outro? Que valores acompanham sua escalada em uma sociedade que prima tanto pelo sucesso material em detrimento da ética, da generosidade, da hombridade, da solidariedade, do temor a Deus?
Viver o mandamento do amor contraria essa noção de ideal de vida como sucesso. Jesus retoma que o ideal de vida consiste em amar-nos uns aos outros como Ele nos amou, e este será o sinal de que somos seus discípulos, pois todos nos reconhecerão se nos amarmos assim, como o foi nas primeiras comunidades: “A multidão era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuíam” (At 4, 32-35).
Mas como amar-nos uns aos outros como Ele nos amou? Essa pergunta me faz vir à cabeça meus primeiros anos de seminário, em 1980. A pedido do padre Fúlvio Francesco Giuliano, eu havia recebido autorização do prelado de Macapá para vir para São Paulo estudar Filosofia. Esse santo padre queria que eu conhecesse o Movimento Comunhão e Libertação, fundado em 1954 por Monsenhor Luigi Giussani. Aqui cheguei cheio de ideais, numa época em que eu vivia com grande intensidade a experiência eclesial. Naquele mesmo ano, me tornei presidente do centro acadêmico e participava de várias manifestações políticas. Eu acreditava que a transformação política era capaz de mudar o mundo.
Até que tive o primeiro encontro com Padre Fúlvio naquele mesmo ano e ele jogou por terra minhas certezas sobre igualdade social ao me explicar o sentido das palavras “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Nisto conhecerão que sois os meus discípulos.” (Jo 13, 34-35). Começou citando o Salmo 126 (H. 127): “Se o Senhor não edificar a cidade, em vão trabalham os que a constroem.” De nada adianta construir a casa se ela não tiver como fundamento o próprio Cristo.
O segundo argumento do Padre Fúlvio era que Deus nos amou primeiro, razão pela qual as coisas só mudariam se amássemos as pessoas por causa de Cristo Jesus. A contragosto, ouvi dele que a verdadeira revolução não nasceria das minhas ideias, mas de Cristo. Só a comunhão com Ele permitiria a verdadeira transformação. O encontro com este sábio homem me deixou profundamente decepcionado, com a sensação de que eu estava diante de um sacerdote que era contra a sociedade justa que eu estava decidido a construir a partir das minhas ideias.
Até hoje reflito sobre a razoabilidade do que escutei de Padre Fúlvio há 45 anos… Tudo se resume em construir a casa com o Senhor Jesus no centro, e isso só é possível porque Ele nos amou primeiro. A transformação é, simplesmente, o reflexo de viver todas as coisas segundo este amor.
Alguns dias atrás vieram me comunicar que um jovem estava morrendo na calçada próximo da igreja e que se recusava a ir a um posto de saúde para atendimento. Madre Teresa de Calcutá nos conta que muitos mendigos por ela assistidos diziam ter vivido uma vida inteira como animais e estavam sendo tratados como anjos no final da vida. Fui até a calçada e propus ao jovem que aceitasse ir para a Casa Guadalupe, mantida pela Missão Belém. Se continuasse na rua, certamente morreria. Ele aceitou e eu tenho certeza de estar sendo amado como Jesus nos amou pelas pessoas que estão cuidando dele – muitas das quais também foram um dia moradoras de rua.
Vive-se na Missão Belém o que se vivia nas primeiras comunidades cristãs: são um só corpo e uma só alma em Cristo Jesus. Essa obra nasce exatamente deste construir a casa sobre a rocha, que é Cristo, que nos amou primeiro, como muito bem me lembrou o meu querido sacerdote Padre Fúlvio Giuliano, já falecido.
Padre Cássio Carvalho – junho 2025.
PADRE CÁSSIO RECOMENDA O NOVO LIVRO DA PAULUS SOBRE LEÃO XIV
Um novo capítulo na história da Igreja começou. Você quer saber os detalhes? Descubra os caminhos de quem foi escolhido para conduzir os rumos da Igreja: sua história, sua missão e os desafios que assume a partir de agora. Leão XIV – O Novo Papa está disponível na PAULUS. Garanta já o seu!

CAMINHANDO COM MARIA

Toda a vida de Maria cabe numa palavra: doação. Humilde, profundamente humana, embora tão agraciada espiritualmente, predileta do Altíssimo. Mulher silenciosa e orante, meditava tudo no silêncio de seu coração. Mulher solícita, prestimosa, serviçal. Mais voltada para os outros do que para si mesma: a caridade cristã personificada.
A vontade do Pai norteou toda a existência peregrina de Maria. Mulher perseverante, imolada, desprendida; fiel até às últimas consequências ao SIM pronunciado, assumido, vivenciado.
Discreta, mas irradiando alegria pascal. Contagiante em sua ternura, onipresente para servir, perdoar, acolher, orientar. Constantemente cantando hinos de gratidão: “O Senhor fez em mim maravilhas, santo é o seu nome”.
Mãe, esposa, apóstola, educadora, modelo. Maria rezava as vinte e quatro horas diárias, no altar da generosidade, no ofertório da doação, no templo sagrado do amor…
Maria, mãe do silêncio e da interiorização, ensina-nos a arte de mergulhar bem no fundo nas águas do Evangelho, no mistério da Redenção. Estrela da manhã, refúgio dos pecadores, saúde dos enfermos, ampara nossos passos nas jornadas do hoje e do amanhã, rumo à eternidade.
Pe. Roque Schneider
VOCÊ É NOSSO CONVIDADO!

No domingo 08/06, venha assistir à peça “Histórias de Outro Tempo”, do Grupo Tempo, as 16h30, dirigida por Roberto Mallet. Uma apresentação cheia de memórias, humor e ensinamentos, com os caipiras Chico, Rosa e Osmar, que vão tocar seu coração e sua fé!
Local: Salão Nobre da Paróquia Santa Generosa (Rua Afonso de Freitas, 49).
Entrada franca!
Traga a família e os amigos! Esperamos você!

AS ALMAS MESQUINHAS QUEREM SER SERVIDAS; AS ALMAS GRANDES QUEREM SERVIR!

Neste mês de maio, vamos dar um passeio com Nossa Senhora até Hebron, onde moram Isabel e Zacarias. Recordando as palavras do anjo a respeito da maternidade de sua prima, Maria pôs-se pressurosa a caminho rumo ao sul, em demanda das montanhas da Judeia. Para não a deixar ir sozinha, vamos nós com ela, impelidos pelo espírito de caridade. Pelo caminho, Nossa Senhora dir-nos-á que o motivo de sua viagem é cumprimentar sua parenta pela mercê que Deus lhe fizera de ser mãe já sendo ela senil, e para ajudá-la com seus préstimos de ágil juventude.
Ah! Que felizes seremos nós se andarmos sempre em companhia da Donzela de Nazaré, através das planícies e serras de nossas vidas!
Em Hebron, silenciosamente, testemunhamos os fatos: Isabel, ao avistar a prima, corre-lhe ao encontro de braços abertos e, iluminada pelo Espírito Santo, exclama com intensa piedade: “Bendita és tu entre as mulheres … Que felicidade receber em minha casa a mãe do meu Senhor!” (Lc 1, 41, 42).
A estas palavras, Maria ergue as mãos ao Céu e, com olhos cheios de lágrimas, rompe o hino da aurora: “Minha alma glorifica ao Senhor … e porque Ele fez em mim grandes coisas … daqui em diante, todos os povos chamar-me-ão de bem-aventurada!” (Lc 1, 46-48).
Hoje somos nós o povo que realiza o que Maria predisse, com os louvores, com os amores e as flores de nosso coração… Que seja sempre maio em nossas vidas!
Enquanto a virginal mocinha desabafa em jubiloso hino os sentimentos que lhe vão na alma, conservemo-nos de joelhos a seus pés, contemplando-a embevecidos, qual outra Bernadette na gruta de Lourdes…
E a humilde donzela, sabendo-se mãe do Salvador e vendo-se cumulada de tantos louvores da parte de Deus, dos Anjos e dos homens, oferece-se como serva a Isabel e fica com ela por três meses, prestando-lhe todos os serviços como uma empregada costuma prestar à sua patroa.
É este o procedimento das almas grandes: quanto mais perto de Deus, mais se esmeram em servir as criaturas por amor de Deus… AS ALMAS MESQUINHAS QUEREM SER SERVIDAS; AS ALMAS GRANDES QUEREM SERVIR!
Padre José (in memoriam, ano 2005).
CINCO PROMESSAS DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA
Cinco promessas de Nossa Senhora de Fátima: um convite à confiança e à oração! Em suas aparições, a Virgem Maria nos deixou promessas cheias de esperança para quem vive com fé, reza o terço e se entrega ao seu Imaculado Coração!

DEUS NÃO CANCELA NINGUÉM!
Pedro prometeu dar a vida por Jesus, mas o negou três vezes. Mesmo assim, recebeu um olhar de misericórdia — e com ele, a chance de recomeçar. Com Deus, sempre há um novo começo!
VIVA O PAPA LEÃO XIV!!!

Com alegria e esperança, acolhemos o novo Papa escolhido para guiar a Igreja de Cristo. Rezemos por sua missão, para que ele seja sinal de unidade, paz e amor no mundo!
Tu es Petrus, et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam (Mt 16, 18).
O QUE EU PERGUNTARIA AO PAPA FRANCISCO?
Se eu tivesse encontrado o Papa Francisco, teria feito apenas uma pergunta: por que devemos nos confessar? Mas a resposta já conhecemos: porque Deus nunca se cansa de nos perdoar. Sua misericórdia é infinita!
DEIXE QUE CRISTO TRANSFORME A SUA DOR
Quando Jesus ressuscita, Ele traz ainda em Si as chagas abertas. Porque as feridas não são apagadas, são glorificadas! Aquilo que um dia foi dor, agora é sinal de vitória. Deixe que Cristo transforme sua dor também. Nas mãos d’Ele, até as marcas se tornam milagres!
HOJE, 21 DE ABRIL DE 2025, O PAPA FRANCISCO ENTREGOU A SUA ALMA A DEUS

Hoje, o Céu acolhe aquele que guiou a Igreja com coragem, humildade e amor. Papa Francisco nos ensinou a caminhar com fé, simplicidade e misericórdia. Que Deus o receba em Sua infinita paz. Descanse em Cristo, Santo Padre!
POR QUE DEUS PERMITE O SOFRIMENTO?
Se Deus é amor, por que permite o sofrimento? No hospital, entre dores e incertezas, Ritinha encontrou um sentido maior. E hoje, junto com o Padre Cássio, ela nos convida a refletir: no sofrimento, Deus nunca nos abandona — Ele nos sustenta.
POSSO ME CONFESSAR DIRETAMENTE COM DEUS?
Sim, podemos falar com Deus diretamente, mas a confissão com um sacerdote é um presente que Ele nos deu! No Sacramento da Reconciliação, recebemos o perdão e a graça para recomeçar com um coração renovado. Não deixe para depois, procure a confissão e experimente a misericórdia de Deus!
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Aqui você acompanha alguns dos vídeos mais recentes da Paróquia Santa Generosa. Recomendamos que acompanhe o nosso Canal do Youtube, além do Facebook e Instagram para manter-se atualizado quanto às nossas atividades.
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palavra do pároco
“AMAI-VOS UNS AOS OUTROS COMO EU VOS AMEI” (JO 13, 34)
Este mandamento nos foi dado por Jesus na Última Ceia logo após a saída de Judas do cenáculo para entregá-lo aos homens da Lei. Mas Jesus não ficou nas palavras somente; em poucas horas, nos mostraria a radicalidade desse amor incondicional ao dar a própria vida para a salvação da humanidade inteira.
Ao enfatizar que se trata de um “novo mandamento”, Cristo propõe uma ruptura na forma de viver as relações humanas, pois, no judaísmo, havia a concepção de um amor de reciprocidade, do “toma lá, dá cá”, isto é, amar os amigos e odiar os inimigos. Essa reciprocidade, no entanto, continua atual, afinal, as normas que regem os relacionamentos em nosso mundo hoje não diferem muito do “olho por olho, dente por dente” daquela época.
Vivemos uma realidade calcada no individualismo, na indiferença total com o outro, no hedonismo e no consumismo. O que conta é o sucesso, pouco ou nada importando as regras para um convívio de solidariedade e cuidado com o próximo na busca dos objetivos. Poderíamos ilustrar o momento atual com a célebre frase do dramaturgo romano Plauto, mas que foi popularizada por Thomas Hobbes: “O homem é o lobo do homem”. Hobbes entende que os humanos são inimigos entre si, como se a tendência natural do indivíduo fosse agir contra o outro.
Nossas crianças são orientadas desde cedo a perseguir os primeiros lugares para, mais tarde, entrar numa faculdade de ponta, obter os melhores empregos. Parece não haver problema em uma criança tentar ser a melhor, porém há que sacrifício de si própria e do outro? Que valores acompanham sua escalada em uma sociedade que prima tanto pelo sucesso material em detrimento da ética, da generosidade, da hombridade, da solidariedade, do temor a Deus?
Viver o mandamento do amor contraria essa noção de ideal de vida como sucesso. Jesus retoma que o ideal de vida consiste em amar-nos uns aos outros como Ele nos amou, e este será o sinal de que somos seus discípulos, pois todos nos reconhecerão se nos amarmos assim, como o foi nas primeiras comunidades: “A multidão era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuíam” (At 4, 32-35).
Mas como amar-nos uns aos outros como Ele nos amou? Essa pergunta me faz vir à cabeça meus primeiros anos de seminário, em 1980. A pedido do padre Fúlvio Francesco Giuliano, eu havia recebido autorização do prelado de Macapá para vir para São Paulo estudar Filosofia. Esse santo padre queria que eu conhecesse o Movimento Comunhão e Libertação, fundado em 1954 por Monsenhor Luigi Giussani. Aqui cheguei cheio de ideais, numa época em que eu vivia com grande intensidade a experiência eclesial. Naquele mesmo ano, me tornei presidente do centro acadêmico e participava de várias manifestações políticas. Eu acreditava que a transformação política era capaz de mudar o mundo.
Até que tive o primeiro encontro com Padre Fúlvio naquele mesmo ano e ele jogou por terra minhas certezas sobre igualdade social ao me explicar o sentido das palavras “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Nisto conhecerão que sois os meus discípulos.” (Jo 13, 34-35). Começou citando o Salmo 126 (H. 127): “Se o Senhor não edificar a cidade, em vão trabalham os que a constroem.” De nada adianta construir a casa se ela não tiver como fundamento o próprio Cristo.
O segundo argumento do Padre Fúlvio era que Deus nos amou primeiro, razão pela qual as coisas só mudariam se amássemos as pessoas por causa de Cristo Jesus. A contragosto, ouvi dele que a verdadeira revolução não nasceria das minhas ideias, mas de Cristo. Só a comunhão com Ele permitiria a verdadeira transformação. O encontro com este sábio homem me deixou profundamente decepcionado, com a sensação de que eu estava diante de um sacerdote que era contra a sociedade justa que eu estava decidido a construir a partir das minhas ideias.
Até hoje reflito sobre a razoabilidade do que escutei de Padre Fúlvio há 45 anos… Tudo se resume em construir a casa com o Senhor Jesus no centro, e isso só é possível porque Ele nos amou primeiro. A transformação é, simplesmente, o reflexo de viver todas as coisas segundo este amor.
Alguns dias atrás vieram me comunicar que um jovem estava morrendo na calçada próximo da igreja e que se recusava a ir a um posto de saúde para atendimento. Madre Teresa de Calcutá nos conta que muitos mendigos por ela assistidos diziam ter vivido uma vida inteira como animais e estavam sendo tratados como anjos no final da vida. Fui até a calçada e propus ao jovem que aceitasse ir para a Casa Guadalupe, mantida pela Missão Belém. Se continuasse na rua, certamente morreria. Ele aceitou e eu tenho certeza de estar sendo amado como Jesus nos amou pelas pessoas que estão cuidando dele – muitas das quais também foram um dia moradoras de rua.
Vive-se na Missão Belém o que se vivia nas primeiras comunidades cristãs: são um só corpo e uma só alma em Cristo Jesus. Essa obra nasce exatamente deste construir a casa sobre a rocha, que é Cristo, que nos amou primeiro, como muito bem me lembrou o meu querido sacerdote Padre Fúlvio Giuliano, já falecido.
Padre Cássio Carvalho
Informativo Mensal da Paróquia – junho/2025
UM DIÁLOGO COM O PAPA FRANCISCO
Conheço muita gente que se maravilhava com as palavras do Papa Francisco, mas conheço também muitos que se decepcionaram com o que ele disse ou deixou de dizer. Confesso que eu fiquei encantado com ele desde o início do seu pontificado, e, por mais incrível que pareça, justamente por causa de sua visão sobre a misericórdia divina. Quando ouvia o Papa Francisco falar sobre o sacramento da reconciliação em específico, sentia-me abraçado por suas palavras, pois ele conseguia responder a todas as minhas dúvidas sobre um sacramento pelo qual tenho dedicado toda a minha vida.
Agora, com a sua partida, lamento não ter podido conversar diretamente com ele sobre tão divino sacramento. Mas ele nos deixou um legado importantíssimo sobre o que pensava sobre o tema. Então, aproveitando um pouco do que expressou sobre isso, arrisco a propor um diálogo entre esse pobre pecador e o Papa Francisco. Elaborei algumas perguntas e, com base em vídeos e textos do próprio pontífice, vou imaginar o que penso que ele me responderia.
– Por que devo me confessar?
– Quando vou me confessar é para me curar, para curar a minha alma. Para sair com mais saúde espiritual; para passar da miséria à misericórdia. E o centro da confissão não são os pecados que dizemos, mas o amor divino que recebemos e do qual sempre precisamos. O centro da confissão é Jesus que nos espera, nos escuta e nos perdoa. No coração de Deus, nós estamos antes dos nossos erros.
O que nosso Papa Francisco quis dizer é que devemos nos confessar sempre, pois ali no confessionário se derrama a graça infinita de Deus sobre cada um de nós, independentemente do tamanho, da gravidade e do número de nossas faltas. Deus está à nossa espera, pronto a nos perdoar, porque nos ama infinitamente.
– Como padre, qual a medida exata do perdão que devemos dar ao penitente? Às vezes me preocupo por achar que perdoo demais…
– Vou contar uma experiência que tive com um confessor em Buenos Aires. Ele tem 96 anos e continua exercendo o ministério. Eu ia até ele porque ele perdoa tudo! Rsrs. Certa vez, ele veio me dizer que tinha medo de perdoar demais. Então eu lhe perguntei: ‘E o que o senhor faz?’ E ele me respondeu. ‘Eu vou diante do Senhor e peço: Senhor, me perdoa? Desculpe-me, perdoei demais! Mas tenha cuidado, pois foi o Senhor quem me deu um mau exemplo!’*
Ouvir isso me consola profundamente e, desde então, quando me encontro em situação que me exige perdoar demais, essas palavras do Papa me veem à mente como uma espécie de consolo e de oração.
– Quando atendo confissões, ao mesmo tempo em que me dou conta do tamanho do drama humano, sei que não posso resolvê-lo ou minimizá-lo com minhas palavras e conselhos. Por isso, procuro falar pouco, confiando plenamente que a misericórdia divina vai atuar na vida do penitente. Estou certo?
– Sim. Ouvir, não perguntar tanto. E, por favor, não seja psiquiatra. Ouvir, ouvir sempre, com mansidão. Quando vir que há um penitente com alguma dificuldade porque tem vergonha, diz: Entendi, não entendi nada, mas entendi. Deus entendeu – o que importa é isso! Certa vez, um grande cardeal penitenciário me ensinou isso: ‘eu entendi, o senhor entendeu. Quanto menos falar, melhor: escuta, consola e perdoa. Tu estás ali para perdoar!’.
Pretendo continuar esse meu “diálogo” com o Papa Francisco nas próximas edições. Certamente, ele tem muito a nos ajudar a compreender a beleza e a profundidade desse sacramento.
*Essa experiência do Papa Francisco foi contada por ele próprio em um encontro com os frades menores da Basílica de São Pedro, por ocasião da celebração dos 250 anos como confessores da Basílica Vaticana.
Pe. Cássio Carvalho
Informativo Mensal da Paróquia – maio/2025
QUANDO O FILHO DO HOMEM VOLTAR, QUANTAS PESSOAS DE FÉ ELE IRÁ ENCONTRAR?
Tenho pensado na pergunta que Cristo faz aos seus discípulos indagando quem ele era: “No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?” (Mt 16, 13). Depois de lhe revelarem que as comparações iam de João Batista a Elias e Jeremias ou alguns dos profetas, Simão Pedro, por graça do Pai, se adianta e diz: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo” (Mt 16, 16).
Por sua profissão de fé, Pedro parecia ter sido o único a entender quem era aquele Homem que lhes ensinava com tanta sabedoria, que realizava tantos milagres e coisas impossíveis para um simples mortal. Mas não, pouco tempo depois dessa belíssima confissão, vê-se que este conhecimento não era maduro o suficiente para a adesão, a entrega total que Cristo esperava dele.
Quando Jesus fala que deve subir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas, que será morto e ressuscitará ao terceiro dia, Pedro se põe a protestar. De fato, ainda não entendera a missão redentora de Cristo, que passava necessariamente pelo lenho da Cruz.
Nenhum deles entendera a magnitude da presença do Filho de Deus entre eles. Imaginemos a decepção dos discípulos de Emaús que retornam às suas cidades após a morte do Mestre. Esperavam que Ele fosse restaurar o reino, e Ele, simplesmente, tinha morrido havia três dias. E Pedro e João que, ao ouvir as mulheres, correm ao sepulcro e só quando veem os sinais, compreendem as palavras de Jesus, que deveria padecer, morrer e ressuscitar dos mortos. Se o mistério de Cristo e sua missão eram um enigma para os próprios discípulos que tiveram o privilégio do convívio com Ele, por que não o seriam para nós mais de dois mil anos depois?
Compreender a vontade do Pai, entender e tornar realidade a missão da Igreja e a nossa como batizados continuam um desafio, porque não basta simplesmente saber quem é Jesus. É preciso viver uma contínua profissão de fé diante de um mundo descrente e materialista, dar testemunho de sua Palavra com o exemplo e a prática dos Mandamentos e da oração.
Isso só é possível se entendermos o projeto divino, o que Deus reserva a cada um de nós. Ele nos quer santos no estado de vida que escolhemos e no ordinário de nossas vidas: “Sede santos como vosso Pai Celeste é santo” (Mt 5, 48). Para atendermos a esse apelo do próprio Cristo, não precisamos tentar esquadrinhar os desígnios de Deus. Basta fazer como Maria: a própria Mãe de Deus não entendia o que se passava com Ela e o Filho, e tudo guardava em seu coração. Acolhia com doçura as palavras, os acontecimentos e tudo o que se referia a seu Filho, e ia meditando, aprendendo, deixando-se guiar pelo Espírito Santo.
Em Santa Generosa, incansavelmente perseguimos essa vocação própria da Igreja, que é anunciar a Boa-nova e ser sinal do amor e da misericórdia de Deus no mundo. A grande vocação da Paróquia é manter viva a fé dos fiéis, seja através das celebrações das missas, confissões, procissões, vias-sacras; é fazer que todos sejam imbuídos da centelha divina e a espalhem em seu cotidiano, em suas casas, em suas famílias, na sociedade; é ajudar aos que se sentem atraídos por Cristo e sua Palavra e aos que ainda estão afastados da Santa Igreja de Cristo, a se manterem de pé quando Ele voltar. Sim, com as graças de um Deus que a todos acolhe, a Paróquia Santa Generosa quer que, quando o Filho do Homem voltar, encontre muitas pessoas com fé neste mundo.
Pe. Cássio Carvalho
Informativo Mensal da Paróquia – abril/2025
DE HOJE EM DIANTE, TU SERÁS PESCADOR DE HOMENS!
O chamado de Simão Pedro e dos primeiros discípulos de Jesus começou de uma forma imprevisível. Os futuros discípulos de Jesus descobrem a vocação de maneira inesperada e extraordinária. Haviam passado a noite inteira em águas profundas do mar da Galileia e não tinham pescado nada. Já estavam recolhendo e lavando as redes, certamente abatidos, depois de uma jornada infrutífera, e profundamente cansados, como acontece conosco em tantos dos nossos dias de trabalho.
Jesus pede a barca de Simão emprestada e afasta-se um pouco da margem para ensinar à multidão que se aglomerava na praia do lago. Tão logo termina seus ensinamentos, pede a Simão para avançar para águas mais profundas e lançar as redes. Simão vai revelar seus conhecimentos de pescador profissional, pois em águas rasas jamais pegariam peixes, e diz: Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes (Lc 5, 5). Imediatamente pegaram tal quantidade de peixes que as redes quase se rompiam. Com a farta pesca, pediram ajuda aos outros pescadores e encheram duas barcas que ali se encontravam.
Diante de tão grande milagre, pois tinha acontecido algo impensável para um profissional experiente das águas como ele, Simão Pedro se dá conta do quão indigno era de estar na presença de Jesus. Ele não é muito diferente dos homens e mulheres do nosso tempo, afinal, também nós sabemos de antemão tudo o que pode e não pode acontecer na nossa vida, e não esperamos que nada de surpreendente nos aconteça. Ele diz a Jesus: Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pobre pecador! (Lc 5, 8). Jesus não se espanta com a nossa fragilidade e falta de fé e vai dizer a Simão Pedro: Não tenhais medo! De hoje em diante, tu serás pescador de homens (Lc 5, 10). E imediatamente eles deixaram a barca e seguiram a Jesus.
A vocação de pescadores de homens, tanto de Pedro quanto dos primeiros discípulos de Jesus, também é, em certo sentido, a vocação de todo cristão. Igualmente somos chamados a conquistar almas para Cristo, confiando que quem torna tudo possível é Deus. Pelo exemplo e pelo testemunho, temos de transmitir a todos os que encontramos pela frente a certeza de que a vida é determinada pela presença amorosa de Deus, mesmo diante de circunstâncias tantas vezes contrárias, adversas, impossíveis.
A Paróquia de Santa Generosa tem sido o sinal mais extraordinário desta realidade divina no meio de nós. Todos os dias, Jesus se faz presente através da Eucaristia, dos sacramentos da Reconciliação e da Unção dos Enfermos. Assim vem acontecendo, bem diante de nossos olhos, a pesca milagrosa de tantas pessoas. Como Simão Pedro, pela obediência em fazer o que Jesus nos pede, passamos da experiência do cansaço, da tristeza e da desolação para a certeza do milagre da multiplicação de almas, para a certeza de que a vida pode, sim, ser melhor porque o Senhor nunca se descuida de nós.
Pe. Cássio Carvalho
Informativo Mensal da Paróquia – março/2025
SANTA GENEROSA E O SONHO DE PADRE JOSÉ PAINE
Quando cheguei para auxiliar Padre José Paine nas atividades de Santa Generosa, no final de 2015, não fazia ideia de como contribuir para aumentar a representatividade de uma paróquia de tão grande potencial e visibilidade na cidade de São Paulo. Encontrei Padre José Paine com seus noventa e cinco anos e, praticamente, sem possibilidades de exercer o seu ministério, pois já não conseguia enxergar e se manter de pé para a Celebração Eucarística. Eu tinha a incumbência de auxiliar um homem santo, que vivia da oração, e que havia cumprido sua missão sacerdotal de garantir um espaço onde a tradição católica fosse respeitada e difundida.
Vinha-me à cabeça as palavras do apóstolo Paulo: “Eu vos felicito, porque em tudo vos lembrais de mim, e guardais as minhas instruções, tais como eu vo-las transmiti” (1Co 11, 2). Eu tinha o desafio de levar adiante o sonho do Padre José de amadurecer a vocação de Santa Generosa como uma paróquia de misericórdia, um lugar de evangelização, de ensinamento, de catequese, de sacramentos, um santuário de graças e bênçãos para a cidade de São Paulo.
Pela calçada de Santa Generosa passam milhares de pessoas todos os dias rumo ao trabalho, hospitais, escolas, metrô e shoppings, especialmente em direção a uma das avenidas mais importantes da capital. Como tornar nossa igreja um chamariz para tantas pessoas que estão quase sempre apressadas, que mal têm tempo de parar para um sinal da cruz diante do Santíssimo ou para uma oração de cinco/dez minutos? Como manter ativos, atuantes e envolvidos os paroquianos já acostumados com o estilo tão acolhedor, generoso e santo de Padre José Paine?
Já consciente de suas limitações, ele me deu carta branca para as mudanças que eu imediatamente quis implementar. Ampliamos o horário de atendimento da secretaria e da igreja e de duas celebrações de missa por dia, passando para três de segunda a sexta. As confissões, antes feitas com hora marcada, passaram a ser realizadas antes e após as missas. O público fiel rapidamente respondeu e, de lá para cá, o crescimento das atividades e do número de celebrações e confissões em Santa Generosa tem sido exponencial!
Com grande parte fechada das igrejas durante a pandemia e dada a grande procura, percebemos a necessidade de ampliar o número de missas aos domingos, passando de quatro para nove. Mesmo com a volta à normalidade, no entanto, o número de frequentadores das missas em Santa Generosa não para de crescer, principalmente nos últimos meses.
Com 250 assentos, a igreja está sempre lotada durante as missas dominicais. Por exemplo, em 19 de janeiro último, registramos mais de 2,4 mil pessoas presentes nas nove celebrações, média de 270 pessoas por missa. Diante da crescente demanda, introduzimos, desde o final de janeiro deste ano, a décima missa aos domingos, às 22h15, porque já não há assentos disponíveis para todos na nona missa do dia, às 21h.
O número de confissões também impressiona. São nove horas de confissões diárias de segunda a sexta-feira; mais de onze horas no sábado e quinze horas no domingo, das 8h às 23h. Aos domingos, setecentas pessoas em média se confessam na Santa Generosa. E um fato curioso: estimamos que 30% dos que entram em nossa igreja buscam a confissão. Isso é simplesmente extraordinário!
Há uma explicação que vem dos próprios fieis que nos procuram, pois tornar a Paróquia Santa Generosa o “lugar da Misericórdia” fez com que muita gente que estava afastada de Deus e dos sacramentos retornasse à Igreja Católica. Muitos admitem que o pavor de contar seus pecados graves e a vergonha de tê-los cometido os afastaram da Igreja; não sabiam como sair da situação de pecado e pensavam que não tinham mais salvação, que se encontravam irremediavelmente em um caminho sem volta! Alguns passaram quarenta/cinquenta anos sem experimentar o perdão de um Deus que é complacente, que é pura compaixão!
Por meio de um trabalho forte e aguerrido nas mídias sociais, este é o rosto de Deus que Santa Generosa está mostrando ao mundo. Ao abrir as portas da misericórdia divina, ao estender os braços para acolher a todos, nossa Paróquia quer ser um lugar onde as pessoas se sintam abraçadas pelo perdão infinito de um Deus amorosíssimo. Este era o sonho de Padre José Paine, um sonho que todos nós estamos construindo juntos!
Pe. Cássio Carvalho
Informativo Mensal da Paróquia – fevereiro/2025
A MAIS BELA NOTÍCIA DE NOSSA HISTÓRIA
O que é o Natal? É a boa notícia: “Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, nasceu hoje o Salvador.” (Lc 2, 10-11). Imaginem que por milhares de anos a humanidade esperou um salvador; o povo de Deus esperava o Messias e, de repente, numa pequena cidade da Judeia, Belém, nasceu um Menino – e em uma manjedoura, um lugar jamais imaginado para receber o Filho de Deus recém-nascido. Esse acontecimento maravilhoso foi anunciado em primeiro lugar aos pastores pelos anjos, que os convidaram a irem a Belém; eles foram e encontraram o Menino como lhes tinha sido anunciado, e voltaram cheios de alegria.
Imaginem a alegria dos Reis Magos depois de tanto tempo em caminho chegando a Jerusalém e perguntando a Herodes e à sua corte onde estava o Rei dos judeus que acabava de nascer, uma pergunta que alarmou o rei e toda a Jerusalém. Depois de saberem dos principais sacerdotes e escribas do povo que Cristo devia nascer em Belém da Judeia, se puseram novamente a caminho, guiados pela estrela que os acompanhava desde o Oriente, e adoraram o Menino que acabava de nascer.
O Natal é essa série de acontecimentos; é o Menino-Deus que nos vem visitar e fixar morada conosco. Isso nunca tinha acontecido na História, pois Deus falava aos homens por meio das leis e dos profetas. A partir desse acontecimento, Ele passa a nos falar por meio do próprio Filho.
Para entender o Natal e o cristianismo, lembro-me da analogia feita pelo Padre Giussani, fundador do movimento católico Comunhão e Libertação. Ele descreve a Terra como uma imensa planície onde, por milhares de anos, os homens constroem, através de suas religiões, uma ponte para se chegar a Deus. De repente, vem um Homem a esta planície onde a ponte está sendo construída e diz: “O trabalho de vocês é muito nobre, mas é, ao mesmo tempo, muito triste e improdutivo, pois vocês nunca chegarão a Deus por essa ponte. Deixem-na e me sigam, pois eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.” Para esses homens que estão há milhares e milhares de anos a construir a tal ponte, esse homem que lhes propõe isso é considerado um louco.
O cristianismo é isso, um Homem que surgiu em um determinado momento da História, disse que era o Filho de Deus, que possuía a mesma natureza Divina do seu Pai e que só se podia chegar a Deus através d’Ele. Isso nunca tinha acontecido antes, pois todos os que o precederam eram profetas de Deus, isto é, falavam em nome de Deus, como Abraão e Moisés.
Então, a questão não é mais de imaginação ou de sentimento, se gosto ou não gosto dessa Boa Notícia. Jesus verdadeiramente nasceu em Belém. E para nós, cristãos, não pode haver dúvida de que o Menino nascido da Virgem Maria em uma gruta de Belém é Deus feito homem, não restando outro caminho para se chegar ao Céu senão por Ele.
O Natal é a mais bela notícia de nossa história, dada primeiro aos pastores, depois, aos Reis Magos e, então, a toda a humanidade: o Menino-Deus nasceu! Vinde adorá-lo e reconhecê-lo presente entre nós!
Pe. Cássio Carvalho
Informativo Mensal da Paróquia – Dezembro/2024
MILAGRES ACONTECEM EM SANTA GENEROSA!
O Evangelho de Lucas (10, 1-16) nos relata que Jesus enviou outros setenta e dois discípulos nos lugares onde ele devia passar e lhes deu o poder de fazerem os sinais que ele mesmo realizava. E os setenta e dois discípulos voltaram possuídos de grande alegria, dizendo: “Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo seu nome!” Mas Ele lhes disse: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago. Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e, sim, porque os vossos nomes estão escritos nos Céus.” (Lc 10, 17-20).
Se naquela época o Senhor mandou os seus discípulos pelos lugares que Ele próprio deveria passar para realizar os sinais de que Ele era o filho de Deus presente na Terra, também agora Ele continua, pelos seus discípulos, que são os bispos, sacerdotes e leigos, a realizar os mesmos sinais de sua presença no mundo através do Espírito Santo. Podem acreditar! Se nos tempos de Jesus aconteciam sinais e milagres, eles continuam acontecendo também em nossos dias – e também aqui em Santa Generosa!
Milagres permeiam a cada instante a nossa existência; muitas vezes, são coisas aparentemente simples, cotidianas, rotineiras. Às vezes, contudo, se revelam como fatos excepcionais. Gostaria de compartilhar três entre os muitos que tenho presenciado em leitos de hospitais e até mesmo no confessionário.
Poucos dias atrás, um jovem veio até o confessionário e, após a absolvição, me relatou um pouco de sua vida. Estava havia mais de cinco anos afastado do sacramento da reconciliação até que, naquela madrugada, lhe chegou um vídeo que publiquei nas redes sociais. Nesse vídeo, eu falava que minha maior alegria era ver as grandes filas que se formam durante a semana e aos domingos à espera da Confissão. E afirmei que é pela absolvição dos pecados pelas mãos do sacerdote que Jesus demonstra o seu imenso amor aos homens. O jovem me disse: “Aqui estou, Padre Cássio, porque não suporto mais viver esta vida de drogas e de prostituição. Quero sentir novamente que Deus é apaixonado por mim, quero voltar a viver a vida na graça de Deus.” Fiquei imensamente comovido com aquele rapaz que se lançou a um novo propósito de mudar sua vida por ter assistido a um simples vídeo que fiz convidando as pessoas a se reconciliarem com Deus. Este é um milagre que sempre acontece em Santa Generosa.
No dia de Nossa Senhora Aparecida um senhor me relatou que tinha acabado de sofrer um golpe financeiro. Tão logo fez o pagamento ao estelionatário, se deu conta de que caíra em um golpe e perdera importante quantia de dinheiro. Então veio à missa de Nossa Senhora Aparecida em Santa Generosa. Ao final da Celebração, participou da procissão e, durante o percurso, fez uma promessa a Virgem: “Se o seu dinheiro lhe fosse restituído, ele o daria à Paróquia de Santa Generosa ou à Missão Belém. Estava realmente convencido de que o dinheiro jamais voltaria à sua conta! Na segunda-feira seguinte, no entanto, teve uma grande surpresa: o dinheiro do golpe lhe foi integralmente restituído.
Tenho presenciado milagres também nos oito hospitais atendidos por Santa Generosa. Tempos atrás, fui atender a um paciente do Hcor. Ao chegar, o senhor enfermo me disse que não precisava da extrema unção e que gostaria de saber quem tinha pedido para que eu fosse até ele. Sinceramente, eu não sabia. Disse-lhe que o pedido me fora encaminhado pela secretaria da paróquia. Intrigado, comecei a conversar tranquilamente com ele; perguntei-lhe onde morava, o que fazia… Foi uma longa conversa antes de eu introduzir o tema que me levara até ele. Tranquilamente, lhe expliquei o grandioso valor do sacramento da unção dos enfermos, instituído para proporcionar ao doente a graça de Deus no momento de dor, sofrimento, e, se fosse da vontade de Deus, também a cura da enfermidade. Ele ficou muito tocado e me pediu o Sacramento da Unção. Ao nos despedirmos, combinamos de nos encontrar em Santa Generosa. Dez dias depois celebrei a missa de sétimo dia dele na Paróquia. Presentes, os dois filhos me disseram o quanto o pai havia mudado após receber a Unção dos Enfermos. Segundo eles, o pai passou a viver um momento de graça e de paz que nunca experimentara antes.
Como discípulos de Jesus, eu, os sacerdotes que me auxiliam e muitos leigos de nossa paróquia poderíamos contar os inúmeros milagres que presenciamos alegremente todos os dias; certamente, seriam necessárias páginas e mais páginas para esses relatos. Mas, como disse Jesus aos seus discípulos, a nossa alegria é que os nossos nomes já estão inscritos nos Céus e que somos queridos e amados por Deus. O que fazemos nasce desse amor divino gratuito e da força do Espírito Santo. Nada esperamos em troca, pois também a nossa vida é puro milagre, é gratuidade, é graça de Deus! Que Ele continue nos abençoando!
Pe. Cássio Carvalho
Informativo Mensal da Paróquia – Novembro/2024
EXPERIMENTAR A MISERICÓRDIA DO SENHOR
Sempre me impressionou a capacidade de Jesus de compadecer-se das criaturas, como nos mostram os Evangelhos. A misericórdia é parte de seu método educativo com os seus discípulos e com o povo que encontrava em sua trajetória terrestre.
Vejamos São Pedro! Quantas coisas saíram de sua boca sem pensar, e quantas vezes foi repreendido por Jesus! No entanto, seu caráter explosivo, enérgico, sempre pronto a reagir, nunca foi obstáculo no seu íntimo relacionamento com o Mestre e do Mestre com ele.
Um dos exemplos de correção se deu logo após uma afirmação de Pedro, inspirada pelo Espírito Santo. Jesus quer saber dos discípulos o que dizem as pessoas sobre o Filho do Homem. Após ouvir a resposta, que o igualava a João Batista ou a um dos profetas, reduzindo, assim, a figura dele à de um homem que falava em nome de Deus, Jesus ouve de Pedro: “Tu és o Filho do Deus vivo!” (Mt 16, 16). Poucos minutos depois, todavia, Jesus o chamará de satanás, o considerará “uma pedra de tropeço” (Mt 16, 23), pois se recusava a aceitar que o Mestre fosse morto e ressuscitasse para nos salvar.
Proponho refletirmos sobre a profunda misericórdia de Deus Pai diante da incapacidade humana em lidar com coisas aparentemente banais de nossa vida e, ainda, duvidar da presença benevolente de Jesus, sempre pronto a nos surpreender com a abundância de suas graças, do seu perdão.
Na pesca milagrosa, Pedro lançou as redes simplesmente em atenção à palavra do Mestre. Ele, pescador experimentado, passara a noite toda em alto mar e nada pescara. E Jesus, aparentemente desconhecedor daquele labor, o manda jogar as redes em águas rasas. Pedro não discute, mas obedece por obedecer, convicto de que não encontraria peixes ali. Lança as redes, e a abundância de peixes por muito pouco não as rompem. Assustado, o apóstolo se prostra diante de Jesus: “Afasta-te de mim, Senhor, pois sou um pobre pecador.” (Lc 5, 8). Em resposta a essa manifestação de humildade, Jesus lhe promete: “Eu o tornarei pescador de homens!”
A misericórdia divina se manifesta mais uma vez logo após a negação de Pedro, temeroso de ser reconhecido como amigo de Jesus, já entregue às autoridades judaicas que o condenariam à morte. Em meio às dores do flagelo daquela noite, Jesus ainda teve tempo e forças para lhe dirigir um olhar cheio de doçura e compaixão, fazendo Pedro chorar amargamente. Mais tarde, já ressuscitado, Jesus confere a ele o poder sobre sua Igreja. Depois de lhe perguntar três vezes se o apóstolo o amava, lhe diz: “Apascenta minhas ovelhas” (Jo 21, 17).
Em outra passagem, igualmente bela, Jesus vê o cortejo da viúva de Naim e se compadece: “Mulher, não chores!” (Lc 7, 13). E restitui a vida a seu filho. Vamos imaginar o sentimento de gratidão que tomou conta daquela pobre mulher. Poderíamos descrever inúmeras cenas dos Evangelhos que comprovam o imenso amor e misericórdia de Jesus para com a multidão que encontrava, as curas que realizava, os pecados que perdoava…
A igreja de Santa Generosa tem essa mesma pretensão: ser o terreno onde Jesus continua sua trajetória de misericórdia e de milagres em nosso tempo. Para tanto, oferece muitas horas de confissões diárias, seja no domingo, com o dia inteiro de Confissões e Missas, seja durante a semana.
No Santo Sacramento da Confissão, o Filho de Deus Vivo continua no meio de nós com o mesmo olhar de ternura que lançou a Pedro, o mesmo olhar benigno dirigido à viúva de Naim, especialmente quando o sacerdote, em seu nome, profere: “Eu te absolvo de todos os teus pecados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.” Em que medida somos capazes de retribuir-lhe tamanha benevolência, tamanha delicadeza, suavidade e disposição de sempre, sempre nos perdoar?
Pe. Cássio Carvalho
Informativo Mensal da Paróquia – Outubro/2024
VOCAÇÃO DE SANTA GENEROSA
Em sua vocação de ser o lugar da memória e da presença de Deus em nossa cidade, a Paróquia Santa Generosa sempre foi agraciada com o testemunho de grandes e santos sacerdotes que por ela passaram, sacerdotes que a ajudaram a se transformar em referência de evangelização e serviço. Entre os muitos que estiveram à sua frente, vale destacar o inesquecível Padre José Paine, que me recebeu quando iniciei minha trajetória aqui. Ele construiu a nova igreja em 1970, e foi o pároco responsável por ela durante 62 anos.
Posso afirmar sem medo de errar que todos os sacerdotes que por aqui passaram se empenharam na grandiosa tarefa de transformar Santa Generosa em um autêntico lugar de acolhida, de misericórdia, um lugar onde as pessoas encontram a presença real de Cristo no santo sacrifício da Santa Missa, nos sacramentos, nos trabalhos de evangelização, na catequese, nos serviços pastorais, etc.
Todo esse esforço foi sendo ao longo dos anos maximizado, potencializado para atender à crescente busca dos paulistanos por um lugar de oração, de experiência cristã, de vivência concreta dos sacramentos, de aprendizado e de experiências religiosas das mais diversas. Hoje, Santa Generosa é referência na cidade por oferecer cincos missas diárias, de segunda a sábado, e nove missas aos domingos, com quatorze horas de confissões.
Outra característica marcante é ser “uma igreja em saída”, como nos pede o Papa Francisco. Não se contenta em manter os seus paroquianos, mas se desafia a arrebanhar novas ovelhas para o redil de Cristo por meio de várias iniciativas, como a catequese de iniciação cristã de adultos para o Batismo, Primeira Comunhão e Crisma. Para conseguir atender à crescente demanda e facilitar o acesso, esses cursos são ministrados online e presencialmente. Nossas estimativas mostram que são mais de trezentas pessoas anualmente a receberem os sacramentos da iniciação cristã.
Ano a ano percebemos o quanto tem crescido também a catequese de crianças, em duas modalidades: 1) A Catequese Bom Pastor, que acolhe crianças de três a doze anos, sendo ela orientada no sentido de ajudar a criança desde cedo a seguir uma trajetória cristã; 2) A catequese de preparação para a Primeira Comunhão e, às vezes, também para o Batismo. Hoje, cresce substancialmente na Paróquia Santa Generosa a presença de crianças de todas as idades.
A característica de ser uma igreja em saída também se consolida pelo atendimento aos enfermos nos oito hospitais que estão no seu território pastoral. Sempre que solicitam, os doentes são atendidos prontamente por um sacerdote, que lhes propõe ministrar o sacramento da Unção dos Enfermos, a Confissão e a Comunhão. Posteriormente, se desejar, o paciente poderá receber a Comunhão diária por meio da visita dos ministros.
O atendimento aos pobres se dá em várias ações, de acordo com a experiência dos voluntários, como as voluntárias da caridade, que distribuem cestas básicas e enxovais para grávidas e, de certa forma, acompanham a vida de várias famílias que necessitam dessa assistência. Vale destacar também o importante trabalho dos Vicentinos em nossa paróquia, pois com visitas e orações, eles acompanham pessoas pobres em suas necessidades mais urgentes.
A Missão Belém continua cada vez mais empenhada em melhorar a vida de nossos irmãos mais necessitados. Em uma de suas muitas ações, propõe aos nossos paroquianos a adoção de crianças que vivem no Haiti, crianças que se encontram abaixo da linha de pobreza. Hoje estima-se que mais de duzentas crianças são apadrinhadas por paroquianos de Santa Generosa. Esses também têm colaborado grandemente com a doação de roupas usadas ao bazar da Missão Belém; toda a renda vem sendo revertida para a construção de uma casa de saúde com capacidade de duzentos leitos para pacientes terminais, pessoas que muito provavelmente iriam morrer nas ruas, mas que terão um lugar digno para fazer sua passagem desta para outra vida.
A igreja de Santa Generosa também abre espaço às experiências de novas comunidades e movimentos que cuidam igualmente da vida de fé dos paroquianos. Entre essas comunidades, estão o Movimento Comunhão e Libertação, Comunidade Lumen, Renovação Carismática Católica, Famílias Novas e membros da Opus Dei. Estes propõem momentos de reflexão e oração para os seus integrantes e abertos a toda a comunidade. Santa Generosa também está presente nas mídias sociais, com a transmissão diária das missas e com reflexões pontuais sobre a vida da Igreja e a vivência segundo a doutrina de Cristo.
Com toda essa gama de ações, movimentos e empenho, a Paróquia Santa Generosa busca se manter atuante e alinhada aos esforços dos primeiros e santos sacerdotes que nos precederam na missão de evangelizar e contribuir com a Igreja em São Paulo, com a Santa Igreja de Cristo. Que Deus nos abençoe!
Pe. Cássio Carvalho
Informativo Mensal da Paróquia – Setembro/2024
“SE ALGUÉM ESTÁ ENFERMO, CHAME OS PRESBÍTEROS DA IGREJA.” (TIAGO 5, 14)
Quando Jesus escolheu seus discípulos e iniciou a vida pública, chamava a atenção a multidão que ia ao seu encontro para ouvir os seus ensinamentos, aliviar suas angústias e levar-lhe os doentes para que os tocassem, pois d’Ele saía uma força que curava toda a sorte de enfermidade e males.
A cura dos doentes foi motivo de muitas controvérsias entre Jesus, os fariseus e as autoridades da época, especialmente no que diz respeito ao poder divino de Jesus, que se posicionava como Filho de Deus, e à observância do sábado.
Certamente, o mais polêmico dos relatos é a cura do paralítico que tinha sido introduzido pelo telhado da casa onde Jesus se encontrava por quatro homens. “… Jesus, vendo a fé daqueles homens, disse ao paralítico: “Os teus pecados estão perdoados.” (Mat 9, 1-8).
Como alguns mestres da lei ali presentes ficaram escandalizados com essa frase, pois o perdão dos pecados é atributo tão somente de Deus, Ele complementou: “Para que saibais que o Filho do homem tem o poder de perdoar os pecados, eu te digo: levanta-te e anda!” (Mat 9, 1-8) E o paralítico levantou e andou. Diz o Evangelho que o povo ficou admirado em ver Deus dar a um homem um tal poder.
As curas em dia de sábado também criaram muitos problemas para Jesus. Segundo o relato de Lucas (6, 6-11), Ele estava pregando na sinagoga quando observou um homem com a mão direita seca. Os mestres da lei e os fariseus estavam a observar, pois se Jesus o curasse em dia de sábado, teriam um bom argumento para acusá-lo.
Antevendo o propósito, Jesus chamou o homem de mão seca e lhe perguntou: no dia de sábado é permitido fazer o bem ou o mal? Salvar uma vida ou deixá-la perder? Dito isso, olhou a todos ao redor e disse ao homem: “estende a mão.” Assim que ele o fez, sua mão ficou curada. Revoltados, os mestres da lei e os fariseus discutiam de tramar contra Jesus.
O Evangelho também mostra a fé como pré-requisito para os milagres. Na cidade de Nazaré, onde passara os primeiros trinta anos de sua vida, Jesus fez poucas curas porque seus conterrâneos não acreditavam que o “filho do carpinteiro” pudesse ter tão grandes poderes.
Faltou a esse povo a fé de um gentil, o oficial romano que pediu o restabelecimento de um empregado seu. Quando Jesus, diante do apelo, se mostrou disposto a ir imediatamente à sua casa, ele disse que não precisava, pois bastava uma palavra sua para que seu subordinado ficasse curado. Jesus curou o empregado e admirou-se da fé daquele homem.
Jesus também infringe os costumes judaicos, segundo os quais tocar em alguém impuro tornaria a pessoa impura. Ele não apenas deixa que um leproso dele se aproxime, como lhe toca e realiza a cura. Em seguida, lhe ordena que vá apresentar-se ao sacerdote.
No milagre da cura do cego de nascença, Jesus desconstrói a ideia de doença como castigo divino, pois se acreditava que alguém pecara para que nascesse com alguma enfermidade, no caso, a cegueira. Jesus nega essa crença e usa essa cura como mais uma manifestação da graça divina no meio do povo.
Em nossos dias, os milagres também se multiplicam a todo o momento. Nos hospitais, é o mesmo Cristo, na pessoa do sacerdote, a visitar os enfermos. Por isso, o Apóstolo Tiago recomenda: “alguém dentre vós está enfermo, chame os presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente, e o Senhor o aliviará; e se tiver pecado, receberá o perdão.” (Tiago 5, 14).
Portanto, convém à Igreja responder ao apelo de Cristo para estar sempre próximo aos doentes e permitir a realização de muitos outros milagres. É sem dúvida também uma oportunidade de o sacerdote contemplar Cristo, de aprender a reconhecê-lo no rosto de tantas pessoas que, pelo sofrimento, completam no mundo a redenção de Cristo, o que faltou ao calvário de Cristo, como nos diz São Paulo.
Pe. Cássio Carvalho
Informativo Mensal da Paróquia – agosto/2024
“QUEM É ESTE, A QUEM ATÉ O VENTO E O MAR OBEDECEM? “(MC 4, 41)
Durante o seu ministério, Jesus precisava revelar aos discípulos quem era Ele; todos os acontecimentos de sua vida serviam para dar sinais de sua divindade. Um desses acontecimentos foi o de acalmar o vento e o mar. Ao cair da tarde, Ele disse aos seus discípulos: “vamos para a outra margem.” Eles despediram a multidão e levaram Jesus consigo (Mc 4, 35-36).
Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que ela já começava a se encher. Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?” Ele se levantou e ordenou ao vento e ao mar: “Silêncio! Cala-te!” O ventou cessou e houve uma grande calmaria. Então, Jesus perguntou aos discípulos: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” Eles sentiram medo e diziam uns aos outros: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?” (Mc 4, 37-41).
Os discípulos eram em grande parte pescadores que Jesus encontrara no mar da Galileia. Mesmo experientes, esses homens estavam apavorados, pois, naquele dia, certamente o mar se agitou como nunca tinham visto antes em suas pescarias. Devia ser mesmo um fenômeno único, a ponto de chegarem assustados diante de Jesus. Ao ordenar o silêncio ao vento e ao mar, Jesus revelava seu domínio sobre a natureza, revelava-se um homem excepcional, afinal, nunca ninguém tinha acalmado o mar daquele jeito; na visão dos discípulos, Ele não podia ser um homem comum.
O método da experiência cristã é sempre o revelar de uma surpresa, é o admirar-se do que o Senhor faz acontecer em nossa vida todo o tempo. Imagine Jesus diante de um paralítico que lhe apresentaram estendido numa padiola: “Meu filho, coragem! Teus pecados te são perdoados.”. Imagine a surpresa de todos quando o ouviu dizer: “Que é mais fácil dizer: Teus pecados te são perdoados, ou: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra o poder de perdoar os pecados, eu te digo: Levanta-te, toma a tua maca e volta para casa”. E a multidão ficou admirada que Deus tenha dado a um homem o poder de perdoar os pecados (Mat 9, 1-8).
Hoje, este método de Deus continua valendo para a nossa vida agitada. Quantas vezes, eu, no trabalho de sacerdote, diante de uma unção a um enfermo, presencio milagres?! Impressionou-me de modo especial um enfermo que se recusou a receber a Unção dos Enfermos, pois não queria morrer de jeito nenhum. Ao ouvir que a Unção do Enfermos era para ajudá-lo a viver na graça de Deus o tempo de vida que lhe restava e que, às vezes, aconteciam casos de cura, ele quis receber de imediato o sacramento. Esse paciente viveu ainda quase uma semana antes de morrer – e morreu com uma serenidade que surpreendeu os seus filhos. Eles me disseram que havia acontecido ali um grande milagre, pois o pai, de agitado e intranquilo antes da Unção dos Enfermos, tinha se tornado outra pessoa. Realmente vivera em graça o pouco tempo que lhe era destinado.
Quantas pessoas encontram coragem para se confessar após me ouvirem insistir que a confissão é o lugar onde Jesus nos olha com imenso carinho e nos diz: “Eu sou apaixonado por você! Eu te amo!”? Muitos procuram a Paróquia Santa Generosa porque a veem como o lugar onde a infinita misericórdia de Deus passa através dos sacerdotes que, embora fracos e pecadores, receberam a autoridade divina para dizer: “Em nome de Cristo, teus pecados estão perdoados. Levanta-te e anda.” Quantos relatos de pessoas que não se confessavam há mais de dez, trinta, cinquenta anos, e que vieram até Santa Generosa para receber o perdão por pecados que não tinham coragem de confessar, e que saíram revigorados pela graça do perdão de Deus?!
Viver em plenitude como cristãos é também deixar-se surpreender com o que Jesus faz acontecer todos os dias em nossa pobre vida. Sua graça divina nos revigora de uma maneira muitas vezes impossível de descrever, de entender. Certamente ainda somos como os discípulos, medrosos e sem fé, mas precisamos confiar que não existe nenhum mar agitado que Ele não possa acalmar, nenhum vento tempestuoso que Ele não consiga subjugar. Ter a consciência de sua presença viva e atuante no meio de nós nos ajuda a acreditar que é possível superar qualquer obstáculo, qualquer circunstância adversa que nos ocorrer.
Pe. Cássio Carvalho
Informativo Mensal da Paróquia – julho/2024
A MISSÃO DE SANTA GENEROSA NA CIDADE DE SÃO PAULO
Sei que já tratei algumas vezes sobre esse tema, mas como é de vital importância neste momento de tanta turbulência, volto a ele: qual é a missão de Santa Generosa na cidade de São Paulo? Por estar localizada em um ponto estratégico (ao lado do metrô Paraíso e a quatrocentos metros de uma das mais importantes avenidas da capital, a Paulista), nossa Paróquia está à vista de centenas e milhares de pessoas todos os dias; não bastasse, conta em seu território com oito hospitais, e todos sabemos da importância da graça e do conforto espiritual para os enfermos, muitos deles em sua derradeira oportunidade de reconciliação com Deus. Por tudo isso, a Paróquia Santa Generosa tem se consolidado como lugar de evangelização e santuário de graças e bênçãos para a cidade de São Paulo, uma missão que “vem de berço”.
Eu me dei conta dessa sua grandiosa tarefa tão logo cheguei à Paróquia, no final de 2015. O responsável por criar essa santa cultura de Santa Generosa e me apresentar os desafios que teria pela frente foi o seu pároco, Padre José Mayer Paine, já com 94 anos. Logo vi o esforço que teria de fazer para acompanhar sua rotina de muito trabalho, mas, sobretudo, de oração, meditação e silêncio. Ele costumava passar muitas horas em recolhimento diante do sacrário. Era notório seu grau de santidade, construída nos mais de sessenta anos que esteve à frente de Santa Generosa.
Esse homem de Deus já tinha cumprido sua missão na Terra. Seus desafios foram imensos. Sua persistência e sua tenacidade tornaram possível a bela igreja que temos hoje. No ano de 1968, foi derrubada a antiga, que ficava no atual viaduto de Santa Generosa. Ele construiu a nova igreja e logo adquiriu a casa paroquial e o terreno onde hoje estão os salões. Tudo o que temos hoje provém desse frutuoso trabalho do nosso caro Padre José.
Questão material à parte, depoimentos e registros históricos mostram que desde o início de sua posse como pároco em Santa Generosa, em 1955, a igreja se tornou o lugar onde a fé católica era vivida na sua integralidade. Sempre foi um lugar de grandes celebrações e marcado pela presença de santos pregadores, como Padre Matheus Nogueira Garcez, Monsenhor Sylvio Mattos, o nosso querido Padre Vittorio Saraceno, que continua a celebrar conosco, e muitos, muitos outros.
Desde o início, sempre houve atenção especial para com o Sacramento da Reconciliação; Santa Generosa sempre procurou se destacar como o lugar onde o fiel pode encontrar a confissão diária. E se consolidou na mente dos católicos como um ambiente de ensino, propagação e expansão da doutrina católica, ajudando várias gerações a enfrentar o secularismo que tem levado tantos católicos a se desviarem da verdadeira fé e, até mesmo, a perdê-la.
Quando comecei na Santa Generosa, encontrei Padre José já idoso, com dificuldades para caminhar, a vista comprometida e dependente da ajuda de pessoas que com grande carinho o serviam. Fiquei impressionado porque, em pouquíssimo tempo, com pequenos gestos, conquistei sua total confiança. Hoje, rememorando alguns desses meus cuidados, vejo que eram coisas realmente simples, fáceis de fazer: pontualidade, nunca atrasar o início das celebrações; ressaltar sempre a importância da confissão frequente; e estar disponível para atendê-las ao final de cada missa. Desde os tempos de Padre José costumo repetir, ao final das missas: “se alguém quiser se confessar, vá para a fila que vou atender às confissões”.
Acho que conquistei o santo Padre José também porque comecei a tomar algumas iniciativas – e ele aprovava e autorizava todas elas: ampliei o horário de funcionamento da igreja – antes, ela abria às 7h e permanecia fechada das 10h30 às 14h30. Na correria diária, para muitas pessoas o horário de almoço é o único disponível para uma visita ao Santíssimo. Com a mudança, ela passou a ficar aberta das 7h às 20h. Animado com a receptividade da alteração, criei um novo horário de missa – ao meio-dia – de segunda a sábado. Também promovi a reforma da fachada e a instalação de uma cozinha industrial para atender aos nossos eventos. Depois que Padre José nos deixou, mantive esse espírito de inovação – criei novos horários de missa, ampliei os horários de confissão e estou sempre me desafiando para manter Santa Generosa em evidência na nossa comunidade e em nossa cidade.
Quem não se lembra, no começo de 2020, do protagonismo de Santa Generosa no período de pandemia? Praticamente um mês após o início já estávamos celebrando missas e atendendo confissões. Era grande a procura e procurávamos atender a todos. Por cerca de três meses a igreja contava apenas com voluntários. E tivemos a ousadia de usar os protocolos de limpeza e saúde que estavam sendo praticados na Europa!
Para se ter uma ideia, em junho de 2020, quando as igrejas começaram a reabrir, na festa de Corpus Christi Santa Generosa já celebrava dez missas aos domingos, com a participação de pessoas de outras regiões da cidade e da Grande São Paulo. Adotamos como critério celebrar quantas missas fossem necessárias para atender a quem quisesse realizar o preceito dominical de forma presencial. Era grande a demanda, e esse modelo praticamente se configurou em nossa paróquia, que oferece hoje nove missas aos domingos e cinco missas diárias! A exemplo do que ocorreu na pandemia, a alta procura por confissões se mantém, e hoje temos seis horas de confissões de segunda a sábado e, aos domingos, atendemos das 8h às 22h. Desconheço igrejas em São Paulo e no Brasil com um horário tão extenso de atendimento.
Várias outras iniciativas vêm se somando para fortalecer e engrandecer o papel missionário de Santa Generosa em nossa cidade, entre elas as procissões (até a Paulista ou até o metro Paraíso) em datas especiais, como festividades de Nossa Senhora, São José, Santa Generosa, Corpus Christi e todas as primeiras sextas-feiras do mês.
A catequese de iniciação cristã de adultos é fruto do comprometimento de mais de uma dezena de catequistas que voluntariamente dedicam muitas horas a esse importante trabalho. Todos os anos, mais de trezentos adultos são preparados para os sacramentos do Batismo, da Crisma e Primeira Comunhão. A catequese de crianças cresceu muito na paróquia. Além da tradicional para a Primeira Comunhão, já ampliada, temos a Catequese Bom Pastor, para crianças de três a doze anos, um modelo de catequese continuada. E temos, na missa das 11h aos domingos, o acolhimento das crianças realizado pelos Pequeninos do Senhor, que fazem um trabalho de evangelização enquanto os pais participam da Celebração Eucarística.
Todas essas iniciativas vêm se somar ao trabalho missionário de atendimento aos doentes que nos solicitam nos oito hospitais do território paroquial. Além da visita do sacerdote para a Unção dos Enfermos, eles podem receber diariamente a Sagrada Eucaristia, graças à disponibilidade e boa vontade de nossos ministros. Penso que a missão da igreja Santa Generosa é responder às solicitações que a realidade nos solicita e ser um lugar onde as pessoas possam encontrar sempre a presença de Cristo, especialmente nos santos Sacramentos.
Pe. Cássio Carvalho
Informativo Mensal da Paróquia – junho/2024