PALAVRA DO PÁROCO: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós.” A Boa-Nova que revolucionou a História!

Em toda a sua trajetória, a humanidade se vê diante da relação entre sua realidade efêmera, transitória e o sentido último dessa realidade. Sempre procura imaginar, entender o nexo entre a própria efemeridade, sua finitude, o eterno e infinito. Está sempre em uma incansável busca por algo que o transcenda, algo que seja capaz de suplantar, de exceder sua condição humana, material, temporária, fugaz, breve.

Assim se explica a intrínseca religiosidade que nos acompanha desde os tempos mais remotos. Esse senso religioso nada mais é do que a natureza original do homem, que desde sempre se questiona sobre qual o significado último da existência. Por que a dor, o sofrimento, a morte? O que faz valer a pena viver? As religiões nada mais são do que tentativas de encontrar respostas a essas questões arraigadas, natas, em cada coração humano, e de aproximá-lo ao máximo de Algo. Esse algo, quer tenhamos consciência ou não, quer acreditemos ou não, é Deus.

No judaísmo, tradição religiosa que deu origem ao cristianismo, Deus falou pelos patriarcas e profetas, conforme relatado no Antigo Testamento. A tradição judaica diz que nunca Deus se revelou assim a nenhum outro povo; não existe nenhuma nação que tenha um Deus tão poderoso que fez o seu povo escolhido sair da escravidão do Egito. No Antigo Testamento, o homem buscava a Deus, e Deus se deixava ser encontrado ao manifestar-se através dos profetas e patriarcas.

O Natal que nós cristãos celebramos é um acontecimento extraordinário não apenas por se tratar de um grande mistério, mas porque rompe a lógica de busca dos homens a esse sentido maior, sobrenatural da existência – qual seja, não é mais o homem em busca de Deus, mas Deus em busca do homem. Por meio de uma menina chamada Maria, Ele se faz homem e revela-se Ele mesmo como Deus e como homem, em humanidade e divindade, em glória e miséria, aos homens.

No mistério da Encarnação está a verdadeira reviravolta, pois não estamos mais dependentes de nossa insuficiência para buscá-lo! É Ele que nos busca. É Ele que vem até nós através do próprio Filho. Resta-nos saber encontrá-lo, pois encontrar verdadeiramente o sentido da existência – que é a grande pretensão de todos os homens, cristãos ou não – só é possível se buscarmos o Filho de Deus feito homem. Ele se deixa encontrar por todos e todos os dias nos acontecimentos mais primários do nosso cotidiano. A questão agora não é mais procurar Deus em meio aos pensamentos humanos e bens materiais mundanos, mas saber reconhecê-lo em cada fragmento do nosso viver. Ele veio no Natal, habitou entre nós e permanece no meio daqueles que acreditam em sua presença.

O conteúdo do anúncio cristão é este: um homem que, vivendo como outro qualquer, comendo, caminhando, ensinando, curando, pregando, declarou: “Eu sou o seu destino. Eu sou Aquele do qual todo o Cosmo é feito; eu sou o Caminho, a Verdade, a Vida.” Esse é objetivamente o único caso da História em que um homem não atribuiu a si mesmo uma genérica divinização, mas se identificou substancialmente como Deus, ainda que em sua condição humana.

Por isso, aumentemos a nossa fé no mistério maior da Encarnação, rezando piedosamente o Ângelus todos os dias (ao meio-dia e às dezoito horas):

“O Anjo do Senhor anunciou a Maria, e Ela concebeu pelo Espírito Santo; eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra; e o Verbo se fez carne, e habitou entre nós!”

O sentido, a beleza da vida que tanto ansiamos é reconhecê-lo presente e atuante em nosso meio. A Boa-Nova é que já não estamos sós, pois Deus veio habitar entre nós. Vamos nos preparar com muita dedicação e fervor para o Nascimento de Cristo!

Pe. Cássio Carvalho – dezembro/2023

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