Rezar é expor-se ao sol

A oração não se restringe em proferir palavras a Deus, mas em nos colocarmos amorosamente diante Daquele que sabemos que nos ama, como afirmou Santa Teresa de Jesus, grande mestra da vida espiritual.

Segundo esta linha de pensamento, o Padre Henri Caffarel, no seu livro Presença de Deus, 100 cartas sobre a Oração, sublinhou que a oração é “um encontro de amor”. Quem ama alguém de verdade não mede esforços para estar em comunhão com a pessoa amada. Desse modo, o descaso e o desinteresse pela vida de oração revelam o pouco amor que temos por Deus. Vivemos como rezamos e rezamos como vivemos. Tal é a nossa oração tal é a nossa vida.

A oração não deve ser “uma a mais” em meio às atividades cotidianas, mas aquilo que substancialmente permeia todo o nosso agir. Algumas pessoas alegam que não rezam por falta de tempo: “Se der tempo vou rezar”. Essa afirmação é um disparate, pois não se trata de uma questão de tempo, mas de prioridade, visto que o próprio tempo pertence a Deus. Não é a oração que deve ser integrada ao trabalho, e sim o trabalho é que deve ser integrado à oração.

Quem realmente ocupa o centro da minha vida? Meus afazeres ou Deus? Jesus deu um diagnóstico preciso acerca das prioridades de Marta: “Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas” (Lc 10, 41). O que perturbava a vida de Marta segundo Jesus? Inquietação e preocupação! Não seria esse o diagnóstico da sociedade pós-moderna? Estamos rodeados de pessoas ansiosas e agitadas que mais se preocupam do que se ocupam, trabalham, mas não produzem. Trabalhar sem rezar resulta em frustração. “Se o senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a constroem” (Sl 126, 1). Marta trabalhava sem rezar, sem sentar-se aos pés do Senhor. Ela teve a petulância de querer alimentar o Pão da Vida sem antes sentar-se aos pés d’Ele para se alimentar da sua Palavra. Ela laborava com fome, por isso que estava agitada e preocupada. Jesus não criticou o trabalho de Marta, mas a atitude dela ao escolher os seus afazeres como a melhor parte da sua vida. Marta esqueceu que antes da ação, vem a oração. “Nada se deve antepor ao amor de Cristo”, já dizia São Bento. E sabendo que rezar é amar, nada se deve antepor à oração.

Segundo o Padre Henri Caffarel, na oração o orante se expõe diante de Deus. Antes de começar a rezar, Deus já está lhe esperando. É Ele quem age primeiramente. Pontuou o fundador das Equipes de Nossa Senhora: “E é muito provável que a ação de Deus seja mais importante que a sua”. Para descrever a ação de Deus na oração, Henri Caffarel utilizou a metáfora do sol: “Quando tomamos um banho de sol, não precisamos nos preocupar para que ele nos aqueça e penetre. Basta que estejamos expostos à sua irradiação”. Destarte, rezar é expor-se ao Sol! E essa Luz é Cristo, “o Sol nascente que nos veio visitar” (Lc 1, 78).

Padre Antonio Torres, Pároco da Paróquia São Pedro e São Paulo do Morumbi.

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