Tenho pensado na pergunta que Cristo faz aos seus discípulos indagando quem ele era: “No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?” (Mt 16, 13). Depois de lhe revelarem que as comparações iam de João Batista a Elias e Jeremias ou alguns dos profetas, Simão Pedro, por graça do Pai, se adianta e diz: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo” (Mt 16, 16).
Por sua profissão de fé, Pedro parecia ter sido o único a entender quem era aquele Homem que lhes ensinava com tanta sabedoria, que realizava tantos milagres e coisas impossíveis para um simples mortal. Mas não, pouco tempo depois dessa belíssima confissão, vê-se que este conhecimento não era maduro o suficiente para a adesão, a entrega total que Cristo esperava dele.
Quando Jesus fala que deve subir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas, que será morto e ressuscitará ao terceiro dia, Pedro se põe a protestar. De fato, ainda não entendera a missão redentora de Cristo, que passava necessariamente pelo lenho da Cruz.
Nenhum deles entendera a magnitude da presença do Filho de Deus entre eles. Imaginemos a decepção dos discípulos de Emaús que retornam às suas cidades após a morte do Mestre. Esperavam que Ele fosse restaurar o reino, e Ele, simplesmente, tinha morrido havia três dias. E Pedro e João que, ao ouvir as mulheres, correm ao sepulcro e só quando veem os sinais, compreendem as palavras de Jesus, que deveria padecer, morrer e ressuscitar dos mortos. Se o mistério de Cristo e sua missão eram um enigma para os próprios discípulos que tiveram o privilégio do convívio com Ele, por que não o seriam para nós mais de dois mil anos depois?
Compreender a vontade do Pai, entender e tornar realidade a missão da Igreja e a nossa como batizados continuam um desafio, porque não basta simplesmente saber quem é Jesus. É preciso viver uma contínua profissão de fé diante de um mundo descrente e materialista, dar testemunho de sua Palavra com o exemplo e a prática dos Mandamentos e da oração.
Isso só é possível se entendermos o projeto divino, o que Deus reserva a cada um de nós. Ele nos quer santos no estado de vida que escolhemos e no ordinário de nossas vidas: “Sede santos como vosso Pai Celeste é santo” (Mt 5, 48). Para atendermos a esse apelo do próprio Cristo, não precisamos tentar esquadrinhar os desígnios de Deus. Basta fazer como Maria: a própria Mãe de Deus não entendia o que se passava com Ela e o Filho, e tudo guardava em seu coração. Acolhia com doçura as palavras, os acontecimentos e tudo o que se referia a seu Filho, e ia meditando, aprendendo, deixando-se guiar pelo Espírito Santo.
Em Santa Generosa, incansavelmente perseguimos essa vocação própria da Igreja, que é anunciar a Boa-nova e ser sinal do amor e da misericórdia de Deus no mundo. A grande vocação da Paróquia é manter viva a fé dos fiéis, seja através das celebrações das missas, confissões, procissões, vias-sacras; é fazer que todos sejam imbuídos da centelha divina e a espalhem em seu cotidiano, em suas casas, em suas famílias, na sociedade; é ajudar aos que se sentem atraídos por Cristo e sua Palavra e aos que ainda estão afastados da Santa Igreja de Cristo, a se manterem de pé quando Ele voltar. Sim, com as graças de um Deus que a todos acolhe, a Paróquia Santa Generosa quer que, quando o Filho do Homem voltar, encontre muitas pessoas com fé neste mundo.
Padre Cássio Carvalho – abril 2025.