PALAVRA DO PÁROCO: Um diálogo com o Papa Francisco

Conheço muita gente que se maravilhava com as palavras do Papa Francisco, mas conheço também muitos que se decepcionaram com o que ele disse ou deixou de dizer. Confesso que eu fiquei encantado com ele desde o início do seu pontificado, e, por mais incrível que pareça, justamente por causa de sua visão sobre a misericórdia divina. Quando ouvia o Papa Francisco falar sobre o sacramento da reconciliação em específico, sentia-me abraçado por suas palavras, pois ele conseguia responder a todas as minhas dúvidas sobre um sacramento pelo qual tenho dedicado toda a minha vida.

Agora, com a sua partida, lamento não ter podido conversar diretamente com ele sobre tão divino sacramento. Mas ele nos deixou um legado importantíssimo sobre o que pensava sobre o tema. Então, aproveitando um pouco do que expressou sobre isso, arrisco a propor um diálogo entre esse pobre pecador e o Papa Francisco. Elaborei algumas perguntas e, com base em vídeos e textos do próprio pontífice, vou imaginar o que penso que ele me responderia.

 Por que devo me confessar?

 Quando vou me confessar é para me curar, para curar a minha alma. Para sair com mais saúde espiritual; para passar da miséria à misericórdia. E o centro da confissão não são os pecados que dizemos, mas o amor divino que recebemos e do qual sempre precisamos. O centro da confissão é Jesus que nos espera, nos escuta e nos perdoa. No coração de Deus, nós estamos antes dos nossos erros.

O que nosso Papa Francisco quis dizer é que devemos nos confessar sempre, pois ali no confessionário se derrama a graça infinita de Deus sobre cada um de nós, independentemente do tamanho, da gravidade e do número de nossas faltas. Deus está à nossa espera, pronto a nos perdoar, porque nos ama infinitamente.

 Como padre, qual a medida exata do perdão que devemos dar ao penitente? Às vezes me preocupo por achar que perdoo demais…

– Vou contar uma experiência que tive com um confessor em Buenos Aires. Ele tem 96 anos e continua exercendo o ministério. Eu ia até ele porque ele perdoa tudo! Rsrs. Certa vez, ele veio me dizer que tinha medo de perdoar demais. Então eu lhe perguntei: ‘E o que o senhor faz?’ E ele me respondeu. ‘Eu vou diante do Senhor e peço: Senhor, me perdoa? Desculpe-me, perdoei demais! Mas tenha cuidado, pois foi o Senhor quem me deu um mau exemplo!’*

Ouvir isso me consola profundamente e, desde então, quando me encontro em situação que me exige perdoar demais, essas palavras do Papa me veem à mente como uma espécie de consolo e de oração.

 Quando atendo confissões, ao mesmo tempo em que me dou conta do tamanho do drama humano, sei que não posso resolvê-lo ou minimizá-lo com minhas palavras e conselhos. Por isso, procuro falar pouco, confiando plenamente que a misericórdia divina vai atuar na vida do penitente. Estou certo?

– Sim. Ouvir, não perguntar tanto. E, por favor, não seja psiquiatra. Ouvir, ouvir sempre, com mansidão. Quando vir que há um penitente com alguma dificuldade porque tem vergonha, diz: Entendi, não entendi nada, mas entendi. Deus entendeu – o que importa é isso! Certa vez, um grande cardeal penitenciário me ensinou isso: ‘eu entendi, o senhor entendeu. Quanto menos falar, melhor: escuta, consola e perdoa. Tu estás ali para perdoar!’.

Pretendo continuar esse meu “diálogo” com o Papa Francisco nas próximas edições. Certamente, ele tem muito a nos ajudar a compreender a beleza e a profundidade desse sacramento.

* Essa experiência do Papa Francisco foi contada por ele próprio em um encontro com os frades menores da Basílica de São Pedro, por ocasião da celebração dos 250 anos como confessores da Basílica Vaticana.

Padre Cássio Carvalho – maio 2025.

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